A introspecção, em linhas gerais, consiste na observação por um indivíduo de seu mundo interno, contemplando seus processos mentais, suas emoções, motivações, desejos, comportamentos, etc. Deriva do latim introspectio, introspectiōnis, referente a introspicĕre, que se interpreta por ‘olhar/observar para dentro’. A prática da introspecção implica uma atenção ou foco da consciência no conteúdo da nossa mente e seus processos, ao contrário da consciência que temos de forma difusa sobre eles quando não paramos para observá-los. Assim, a introspecção permite que as pessoas saibam mais sobre si mesmas, analisando seus sentimentos e ideias.
A capacidade reflexiva, baseada na consciência de nossos próprios estados, nos dá uma maior capacidade de agência sobre o que nos acontece, pois serve para uma compreensão mais profunda disso. Como consequência, dirigir o olhar para si mesmo —tanto sobre o nosso presente como sobre a nossa história— permite um maior grau de liberdade, pois implica uma maior decisão sobre a orientação dos nossos comportamentos, podendo corrigir os erros e orientá-los para caminhos mais satisfatórios.
A introspecção é considerada um método fundacional da Psicologia como disciplina autônoma, que se estabeleceu como ciência autônoma quando se separou da filosofia no século XIX. Atualmente, é preservado especificamente como um dos métodos privilegiados pela corrente da Psicologia Cognitiva, embora tenha sido parcialmente abandonado por um longo período.
Entre seus antecedentes, vale citar a introspecção experimental, desenvolvida pelo filósofo alemão Wilhem Wundt (1832-1920), cujas ideias foram recuperadas por seu discípulo Edward B. Titchener (1867-1927) no início do século XX. O propósito da introspecção experimental era a abordagem científica e objetiva dos processos mentais. Para isso, os sujeitos estudados foram submetidos a estimulação controlada, a fim de registrar a expressão da psique em resposta aos estímulos apresentados. Entre os experimentos realizados, podemos citar por exemplo, o treinamento de indivíduos para distinguir os estímulos de suas cognições sobre eles, e então mensurava-se o tempo de resposta a pequenas mudanças de estímulo (ou seja, mudanças de brilho, cor, contraste, tamanho dos estímulos visuais, etc.).
Por outro lado, a introspecção sistemática ou fenomenológica, cujo principal referente foi o filósofo Franz Brentano (1838-1917), visa acessar processos cognitivos complexos por vias não experimentais. Brentano postula sob o método introspectivo um estudo empírico através da análise fenomenológica da experiência interna, que permite especificar os fenômenos psíquicos como objeto de observação. Para o filósofo, o objeto da introspecção não é o conteúdo da mente, mas a atividade mental, ou seja, a memória, a percepção e o pensamento.
O método introspectivo passou por uma longa crise, devido as diversas críticas que levaram à sua rejeição. Dentre elas, foi apontado que seria um método falível, pois a mente não poderia ser sujeito e objeto de reflexão ao mesmo tempo. Também, sugeriu-se que a introspecção poderia modificar a experiência dependendo dos estados em que se apresentava a mente no momento de realizá-la, por exemplo, com raiva ou depressão. De maneira geral, pode-se dizer que as críticas ao método introspectivo apontavam para sua falta de “objetividade”.
Atualmente, a introspecção, no âmbito da Psicologia Cognitiva, descreve o relato verbal (denominado protocolo) dos processos cognitivos realizado por um indivíduo enquanto os vivência. Os protocolos verbais consistem em descrições organizadas cronologicamente das atividades que o sujeito desenvolve durante a realização de uma tarefa, por exemplo, a resolução de um problema. Assim, eles servem para caracterizar pensamentos com base em dados registrados. Uma técnica bastante difundida para a produção de protocolos verbais é pensar “em voz alta”, ou seja, o indivíduo descrever em voz alta seus pensamentos, seja durante a realização de uma tarefa específica, ou ao final de sua execução, descrevendo todos os pensamentos que se lembre de ter tido durante a execução da tarefa.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Abril 2023). Conceito de Introspecção. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/introspeccao/. São Paulo, Brasil.