A convivência é o fato de coabitar ou coexistir no mesmo espaço com outro ou outros, inclusive consigo mesmo, pois, como ensina Sigmund Freud, ao propor sua noção de inconsciente, não somos totalmente senhores de nossa própria psique; há coisas sobre nós mesmos que não sabemos ou que não podemos administrar como gostaríamos. Este espaço pode ser físico (por exemplo, com colegas de trabalho no escritório), virtual (por exemplo, nas redes sociais) ou mental (por exemplo, com os próprios pensamentos).
A convivência é entendida como estar “na companhia de” ou “estar com”. Por exemplo, posso morar em um apartamento com meu parceiro, em um bairro com meus vizinhos, moro na mesma cidade com outras pessoas, convivo com minhas próprias emoções e assim por diante.
O ser humano é um ser social, portanto, desde o momento em que nascemos, temos contato com os outros e submergimos no “banho de linguagem”, como diria Jacques Lacan. Precisamos dos outros para sobreviver, para satisfazer nossas necessidades afetivas e de socialização. O que nos torna humanos, justamente, é a conexão com nossos semelhantes.
O primeiro grupo de coabitação é a família ou – se não houver ou não for considerado adequado – as casas ou instituições de trânsito, que devem cumprir a mesma função. Na família adquirimos hábitos básicos de higiene, alimentação e cuidado, aprendemos formas de tratar os outros (ex: cumprimentar, pedir licença, dizer por favor e obrigado), ou seja, criar laços, de acordo com a nossa cultura e singularidade familiar.
Então, a maioria das sociedades exige que a criança ingresse na escola, no jardim de infância, onde sai do núcleo familiar, para aprender outras formas de se relacionar e de ser. Ali se ensina a psicomotricidade, estimula-se a linguagem, incorporam-se orientações, turnos e papéis, por meio do jogo simbólico ou regulado, aprende-se a compartilhar; costumes e tradições são transmitidos; conhecimentos essenciais para o resto da escolaridade e da vida.
Na adolescência, o grupo de pares é muito favorável e geralmente é encontrado na escola. É essencial para o processo de rebeldia, explorando o mundo extrafamiliar e dotando a personalidade de traços próprios, tudo que contribua para a autonomia do pensamento.
A convivência no trabalho influencia na capacidade produtiva dos colaboradores, por isso uma boa convivência e um bom ambiente de trabalho são muito importantes. No entanto, outra posição é gerar competitividade entre os trabalhadores para que eles queiram “bater” os outros e atingir rapidamente os objetivos. Ambas as formas são implementadas pelos empregadores, em benefício próprio, mas apenas no primeiro caso é que a saúde mental dos trabalhadores também é beneficiada.
Na sociedade, em grande escala, convivemos diariamente com milhares de pessoas, desde vizinhos, conhecidos, pessoas na sala de espera do médico, secretárias, empregados, telefonistas, transeuntes, etc. Embora não estejamos totalmente conscientes, na maioria das vezes estamos interagindo e exibindo nossas habilidades sociais.
Como é uma boa convivência
Embora uma convivência harmoniosa seja em parte subjetivo, existem alguns pontos que a maioria dos indivíduos concorda como facilitadores, entre os quais encontramos a empatia, a tolerância, a cooperação e o respeito.
A resolução de conflitos, nestes termos, opõe-se à violência de todos os tipos e supõe o diálogo, validando diferentes emoções e pontos de vista, com um pensamento “aberto” à diversidade, para chegar a acordos.
Não se trata de não discutir, mas de conversar sem cair na violência, que é a forma primitiva de resolver conflitos, típica dos animais não humanos.
Não menos simples do que viver em sociedade, é conviver no mesmo espaço psíquico com nossos pensamentos, emoções, dificuldades, impulsos e saberes velados em nosso inconsciente. Como melhoramos essa convivência interna? Com autoconhecimento e autoestima sólida; com reflexão e gentileza; dando-nos momentos de calma; ouvindo nosso corpo e nossa psique; aceitando-nos humanos e, portanto, falho; colocando o foco em nossas habilidades.
Essa convivência, como todas, pode ser agradável em alguns momentos e desagradável em outros, o que é de se esperar. Porém, se sentirmos que algo não está indo como deveria e precisarmos da ajuda de um profissional psicólogo, podemos solicitar uma consulta terapêutica ou o início do tratamento.
Viver sob o mesmo teto com outro ser humano implica coabitar em termos de espaços, tempos, formas de ver a vida, preferências e hábitos. Geralmente, no início, demora um pouco para se adaptar, até chegar a acordos de convivência e refletir se devemos ou não aceitar aquelas coisas do outro com as quais não concordamos.
Viver junto significa aceitar o outro, em seus aspectos positivos e negativos. E uma boa convivência a dois, com respeito e tolerância, comunicando nossos sentimentos, fortalece o vínculo.
Morar junto é uma escolha, pois muitos casais hoje, mesmo quando casados, decidem não morar, porque não gostam ou não lhes faz bem, e isso também é válido.
Artigo de: Renata González. Professora de Psicologia
Referencia autoral (APA): González, R.. (Janeiro 2023). Conceito de Convivência. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/convivencia/. São Paulo, Brasil.