O autodidatismo é o processo pelo qual uma pessoa assume o papel de guia de seu próprio processo educativo, geralmente sem recorrer ao ensino formal oferecido por instituições de formação, como a escola, a universidade ou institutos. No entanto, pode-se compreender esse método como compatível com os métodos de ensino formal, pois exige uma participação ativa do estudante no processo de ensino e aprendizagem.
Influenciado pelo francês autodidacte, com base no grego αὐτοδίδακτος (autodídaktos), formado pelo prefixo αὐτο- (auto-), de αὐτός (autos), que significa ‘por si mesmo’, ‘próprio’, e διδακτός (dídaktos), que significa ‘ensinado’, derivado do verbo διδάσκειν (didaskein), que significa ‘instruir’, ‘ensinar’.
A forma de aprender autodidata se caracteriza pelo hábito de estudo de maneira independente em relação a um educador ou a uma instituição educativa. É considerado um hábito porque requer constância na leitura e no estudo em geral, além do desenvolvimento de habilidades como a compreensão leitora, a análise e síntese textual, a formulação de perguntas, e a aplicação de conceitos a situações concretas.
O autodidatismo apresenta certas vantagens em relação aos métodos de ensino tradicionais, que se baseiam na concepção do processo de ensino e aprendizagem como uma transmissão de conhecimentos. Ao contrário, o método autodidata não propõe a transmissão de conhecimento daquele que possui o saber —ou seja, o professor— para aqueles que não sabem —os alunos—, mas coloca a capacidade de aprender do educando em primeiro plano. Como resultado, fomenta-se a motivação e o interesse do estudante, pois a dimensão do desejo de aprender ganha maior relevância do que em um aprendizado sob condições de obrigação.
O autodidata depende de si mesmo para construir seus conhecimentos, e não de outra pessoa frente à qual ele seria ignorante. Ele ocupa, ao mesmo tempo, os papéis de mestre e aluno.
O autodidatismo não deve ser compreendido como um modo de estudo individual ou isolado dos demais, mas como uma abordagem que posiciona o sujeito do processo de ensino e aprendizagem de outra forma, sobre a qual recai a responsabilidade ou a passividade. Na educação tradicional, o estudante é, na maioria das vezes, um sujeito passivo; enquanto, sob essas condições, o autodidatismo seria impossível.
Ser autodidata não significa que não se possa recorrer a outros para consultar problemas, discutir diversas questões ou pedir ajuda. A troca e a busca por outros pontos de vista também fazem parte do processo de aprendizagem e constituem vias válidas para o desenvolvimento dos conhecimentos. A dimensão do diálogo com os outros é, inclusive, uma parte fundamental do processo autodidata, pois permite uma autoavaliação do próprio percurso e possibilita incorporar novas perspectivas, reorientar as pesquisas ou reconsiderar certos elementos errôneos que possam ter passado despercebidos.
É necessário destacar que, para ser autodidata, é preciso ter os meios materiais que permitam arcar com o custo do acesso a livros didáticos, livros especializados, pesquisas na internet e outros recursos; além de dispor do tempo necessário para manter o hábito de estudo. Muitas vezes, o acesso a esses materiais é facilitado pelas instituições educativas no contexto do ensino formal.
Por outro lado, quem se forma de maneira completamente autodidata, fora das instituições educativas, normalmente não obtém nenhuma certificação oficial que valide seus estudos, como um diploma emitido por uma instituição acadêmica reconhecida. Isso pode, ou não, ser um inconveniente, dependendo das metas que a pessoa autodidata almeja e se deseja se inserir em determinados circuitos profissionais.
A proposta do método autodidata pode ser analisada a partir da discussão entre as teorias de aprendizagem comportamentalista e construtivista. O comportamentalismo clássico, cujo principal expoente foi o psicólogo John Watson (1878-1958), propõe um modelo de aprendizagem centrado no professor, que apresenta o exemplo de comportamento a ser seguido e, ao mesmo tempo, reforça a assimilação desse comportamento pelos alunos por meio de estímulos positivos.
Por outro lado, o construtivismo, associado à figura do psicólogo Jean Piaget (1896-1980), parte da ideia de que o conhecimento é uma construção realizada pelo sujeito por meio da ação. Não se trata de uma recepção passiva de conhecimentos já formulados por outro, mas de um processo de elaboração no qual o sujeito participa ativamente e que se atualiza permanentemente. Pelo que foi dito anteriormente, a corrente comportamentalista se apresenta como uma teoria incompatível com o aprendizado autodidata, enquanto este se aproxima conceitualmente das teses construtivistas.
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Agosto 2024). Conceito de Autodidata. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/autodidata/. São Paulo, Brasil.