A ontologia é compreendida como a área da filosofia que trata dos entes, ou seja, de tudo o que é, sejam eles coisas tangíveis (uma mesa, um ser vivo, uma pintura) ou coisas intangíveis (conceitos, linguagens, números, etc.). Do grego ὄν, ὄντος (ón, óntos), de ‘ente’, e -λογία (-logía), de ‘estudo’, ‘discurso’. Embora seja um termo relativamente recente (originado por volta do século XVII), os problemas que ele aborda remontam aos primórdios do pensamento filosófico.
A relação entre a metafísica —entendida como a ciência que estuda o ser ou o que está “além da física” — e a ontologia tem sido altamente controversa ao longo da história do pensamento. Em certas tradições, a ontologia é considerada parte da metafísica, que trata do ser em geral ou do ente como ente (e não do ser como tal ou de seu fundamento, isto é, a matéria própria da metafísica). É o caso, por exemplo, da concepção do filósofo racionalista Christian Wolff (1679-1754), uma das principais influências teóricas de Immanuel Kant (1724-1804).
Para Kant, a ontologia também faz parte da metafísica, consistindo em um sistema de conceitos e princípios de entendimento considerados na medida em que se referem a objetos sensíveis. Nesse sentido, a Crítica kantiana da Razão Pura pode ser entendida como uma ontologia, na medida em que se coloca como uma investigação sobre as determinações necessárias e universais dos seres como objetos da experiência humana, ou seja, das condições de possibilidade do conhecimento de tais objetos. Porém, diferentemente da ontologia racionalista e realista wolffiana, que defendia ser possível conhecer as coisas por elas mesmas pela razão, a ontologia kantiana é de ordem fenomenal, pois segundo ela os sujeitos conhecem os objetos na medida em que os constituem através de seus próprios conceitos puros e dos dados da sensibilidade.
No século XX, Martin Heidegger (1889 – 1976) empreende uma profunda revisão da história do pensamento filosófico, destacando —em sua obra fundamental Ser e Tempo (1927) — que a questão sobre o sentido do ser em geral, ou seja, o significado do “ser” é a questão mais fundamental da filosofia. Apesar disso, a filosofia como disciplina não tratou do ser, mas confundiu o ser com um ente, mesmo quando era o ente supremo. Em cada época, então, a questão do ser enquanto tal se confundia com a questão do ente, de modo que, segundo Heidegger, a filosofia até então não havia tratado da diferença entre ser e ente.
O filósofo caracteriza esta situação como um “esquecimento do ser” que atravessa não só a filosofia (descrita como ontoteologia), mas também a existência cotidiana dos homens. A razão pela qual isso se explica é, para Heidegger, que o ser humano tem direcionado seu interesse para os entes para dominá-los, ou seja, em última instância, para o desenvolvimento da técnica, sem se deter no que são tais entes. Assim, a época atual, identificada como tecnocientífica, revela-se como a época em que o esquecimento do ser atingiu seu ponto culminante.
Nas últimas décadas, o interesse pela ontologia clássica foi renovado na forma de novas ontologias, não apenas dentro da filosofia, mas em diferentes áreas do conhecimento. Ao falar em “ontologias”, no plural, destaca-se a discussão em torno das entidades que compõem o domínio de conhecimento de um determinado campo. No campo da filosofia, um exemplo disso é a chamada Ontologia Orientada a Objetos (OOO), desenvolvida pelo filósofo americano Graham Harman (1968).
Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.
Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Ontologia. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/ontologia/. São Paulo, Brasil.