Conceito de Tempo

Lilén Gomez | Março 2023
Professora de Filosofia

Tempo (do latim tempus, traduzido como ‘duração’ ou ‘lapso temporal’) designa a duração das coisas mutáveis, através de suas sucessivas mudanças de estado. Para a Física, é a magnitude que permite quantificar uma sequência de eventos, de acordo com um determinado sistema de medição (por exemplo, o sistema sexagesimal, segundo o qual dividimos o tempo em horas, minutos e segundos). A palavra “tempo” é usada, por sua vez, como sinônimo de “época” e para se referir ao estado meteorológico.

O Tempo na mitologia grega

A questão do tempo tem sido uma das grandes questões que atravessam a humanidade desde os seus primórdios, pelo que podemos encontrar vestígios nas mais diversas culturas ao longo da história. No caso do Ocidente, o tema do tempo e da temporalidade já aparece, sob um tratamento pré-teórico, na mitologia grega, na qual os discursos filosóficos que a antecedem fincam profundamente suas raízes.

Para os gregos, o mythos consistia em uma forma de falar — isto é, do logos, termo pelo qual eram designadas as falas em geral — frequentemente relacionada a histórias sagradas, relativas a deuses e heróis. As grandes questões que ocupavam os seres humanos, geralmente eram geralmente explicadas por meio dos mitos. Quanto ao conceito de tempo, na mitologia grega é possível encontrar múltiplas figuras ligadas à temporalidade, entre as quais se destacam duas divindades: Cronos e Kairós. Enquanto Cronos, — segundo a Teogonia de Hesíodo (século VIII a.C.), filho da Terra (Gea) e do Céu (Urano)—, representa o tempo do infinito, a eternidade; Kairós —daimon ou deus menor, filho de Zeus (por sua vez, filho de Cronos e pai dos deuses do Olimpo) e Tyché, a deusa da fortuna—, representa a ideia de momento oportuno, ou seja, não faz alusão a temporalidade linear, cuja ideia herdamos, mas ao período indeterminado em que se abre a oportunidade de algo relevante acontecer. O mito de Cronos explica assim a origem do tempo absoluto, que ordena o mundo natural e abrange todas as entidades.

Conceitos filosóficos sobre o tempo

Nos primeiros discursos filosóficos sobre o tempo, na Grécia, entre os séculos VI e V a.C., encontramos a dicotomia fundacional entre a teoria de Parmênides de Eleia, segundo a qual o mundo real é imutável e incorruptível e, portanto, não está sujeito à temporalidade; e os postulados de Heráclito de Éfeso, para quem a única coisa real é o devir, isto é, a mudança permanente, à qual está sujeito tudo o que existe.

A questão do tempo em termos cosmológicos foi levantada em vários momentos da história da filosofia. Já ingressada na Modernidade, esta será atravessada pelos desenvolvimentos das ciências, como a matemática e a física. É o caso, por exemplo, dos postulados de Immanuel Kant (1724 – 1804) sobre o tempo, que refletem a influência da física newtoniana. Segundo o filósofo, o tempo consiste em uma estrutura constitutiva da subjetividade humana, por meio da qual somos capazes de apreender o mundo externo, moldando nossa experiência sensorial.

Na filosofia contemporânea, as investigações do pensador alemão Martin Heidegger (1889 – 1976) sobre o tempo e sua relação com o ser —em particular, com o existente humano— são consideradas umas das mais relevantes do século XX. Heidegger questionou a dimensão ontológica do tempo, na medida em que a temporalidade se revela como uma das estruturas essenciais do dasein, ou seja, do ser humano como entidade privilegiada entre todas as entidades existentes no mundo. Assim, a temporalidade está ligada ao ser, de forma indissociável.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Tempo. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/tempo/. São Paulo, Brasil.

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