Conceito de Gnosiologia

Lilén Gomez | Março 2023
Professora de Filosofia

A Gnosiologia é a parte da filosofia responsável pela chamada ‘Teoria do conhecimento’, ou seja, o estudo sobre como conhecemos. Sua origem etimológica refere-se ao grego γνῶσις (gnôsis), de “conhecimento”.

Diferença entre Gnosiologia e Epistemologia

A gnosiologia distingue-se por ter como objetivo a reflexão sobre o problema do conhecer, isto é, a relação de conhecimento entre o homem e o mundo que o rodeia, bem como da natureza e da possibilidade de conhecer/ser instruído. Já as ciências, ao contrário, assumem um suposto dado como uma possibilidade do conhecimento, geralmente sem tematizá-lo analiticamente. Dentro do campo geral da gnosiologia, o ramo da teoria do conhecimento que se dedica especificamente ao científico, associando-se as pesquisas e princípios, é chamado de epistemologia.

O surgimento das primeiras teorias gnosiológicas

A teoria gnosiológica desenvolvida pelo filósofo grego Platão (427 – 347 a.C.) na Grécia clássica influenciou o surgimento das muitas teorias do conhecimento no Ocidente até os dias atuais. Platão defende que podemos conhecer graças à nossa capacidade intelectual, e não pelos nossos sentidos (tese que será recuperada pelo racionalismo na Modernidade). Assim, o conhecimento válido advém da razão, que nos aproxima das verdades universais e necessárias contidas nas Ideias, ou seja, os arquétipos de todas as coisas, que se encontram no mundo suprassensível. A gnosiologia proposta por Platão é, de certa forma, uma epistemologia, pois identifica o conhecimento como um conhecimento racional, “científico”, em oposição à mera opinião e ao conhecimento baseado na experiência. Aristóteles (384 – 322 a. C.), por outro lado, se difere do platonismo, na medida em que introduz a ideia de que o intelecto apreende as formas como imagens, ou seja, a intelecção é necessariamente sustentada pela sensação, embora se diferencie dela.

O cogito cartesiano

A modernidade filosófica se inicia com a teoria gnosiológica racionalista, isto é, o racionalismo, cujo principal representante foi René Descartes (1596-1650). Descartes, em consonância com as teses platônicas, postula que o conhecimento pertence apenas à faculdade cognitiva, a razão. A unidade de todo conhecimento permite ao intelecto avançar de forma ordenada de um conhecimento para outro, seguindo um método — o método matemático-dedutivo —. A matemática aparece como um saber indubitável, pois suas regras não admitem verdade ou falsidade, portanto, funciona como um modelo metodológico aplicável a problemas empíricos. A partir dessa ideia, Descartes formulará sua teoria gnosiológica, baseada na evidência do ego cogito “penso, logo existo” como a primeira verdade indubitável, a partir da qual é possível avançar no conhecimento, de acordo com as regras do método científico.

Como resposta ao racionalismo, as teorias empiristas do conhecimento sustentam a ideia de que não sabemos graças à nossa faculdade racional, mas apenas graças às percepções dos nossos sentidos. David Hume (1711-1776), um dos maiores expoentes desta corrente, chegou a questionar a ideia de identidade pessoal, bem como a unidade da mente, desde que esta seja fruto de uma mera justaposição de percepções.

Kant e a revolução coopernicana

Com a crítica ou idealismo transcendental de Immanuel Kant (1724-1804) introduziu-se a chamada revolução copernicana do conhecimento. Kant recupera ideias do racionalismo e do empirismo, entretanto, difere delas na medida em que ambas as correntes entendiam o processo de conhecer como uma relação entre o sujeito cognoscente e o objeto do conhecimento de tal forma que o primeiro se aproximava do segundo para conhecê-lo. A partir de Kant, o conhecimento passa a ser entendido como um processo construtivo. É o sujeito que constitui o objeto, a partir das estruturas mentais que compõem sua subjetividade, que independem da experiência, mas que exigem que ela seja preenchida com conteúdo. Com o idealismo kantiano, o sujeito deixa de ser um receptor passivo de estímulos externos e passa a ser um agente produtor de conhecimento.

Conhecimento e poder

GnosiologiaA virada radical na concepção do conhecimento introduzida por Kant, abre as portas para considerar as condições em que o sujeito produz o conhecimento uma vez que ele se torna ativo em sua produção. Na contemporaneidade, as condições históricas de produção do conhecimento, atravessadas pelas dimensões política, econômica e social, tornar-se-ão o centro das reflexões filosóficas. Com autores como Michel Foucault (1926-1984), abre-se no campo do conhecimento a questão sobre as configurações desse saber a partir de uma perspectiva ética. Uma vez que o conhecimento deixa de ser uma abordagem neutra da verdade para “a própria verdade”, torna-se possível questionar quais são os efeitos e objetivos de certas articulações do conhecimento, tendo em conta as relações de poder e interesses que o atravessam.

Artigo de: Lilén Gomez. Professora de Filosofia, com desempenho em ensino e pesquisa em áreas da Filosofia Contemporânea.

Referencia autoral (APA): Gomez, L.. (Março 2023). Conceito de Gnosiologia. Editora Conceitos. Em https://conceitos.com/gnosiologia/. São Paulo, Brasil.

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